Órgão de Tubos

Recitais de órgão de tubos batem recorde de público

Nas últimas cinco apresentações, o Museu recebeu quase 400 pessoas em recitais que contaram com choro, samba e baião.

publicado: 12/03/2025 09h28, última modificação: 12/03/2025 16h47

Com cinco apresentações realizadas entre dezembro de 2023 e fevereiro de 2025, o Museu Regional de São João del-Rei encerrou mais uma temporada de recitais de órgão de tubos com um sucesso marcante. Acompanhados de violino, saxofone e canto, e trazendo temáticas populares e nacionais, os concertos desse período somaram o maior público desde a restauração do órgão em 2010.

No total, os recitais receberam mais de 330 pessoas registradas no livro de visitas e uma estimativa de cerca de 60 pessoas não registradas – totalizando quase 400 expectadores nesta temporada.

O primeiro recital, com temática natalina, contou com um público de 35 pessoas. Já na Semana Santa, foram 57 lugares ocupados no auditório e, em julho, 91 cadeiras ocupadas. No fim de 2024, o segundo recital natalino fechou o ano com 38 presentes. Encerrando a temporada, em fevereiro de 2025, foram 114 pessoas.

A última vez que um recital ultrapassou os cem expectadores foi em julho de 2016, quando 120 pessoas assinaram o livro de registros. Naquele mesmo ano, a somatória da temporada chegou a quase 300 pessoas1.

Priscila La Gatta e Sofia Leandro se apresentam na Semana Santa de 2024.

Lotação máxima ultrapassada

Os destaques foram os dois Recitais de Férias, em julho de 2024 e fevereiro de 2025, que extrapolaram o espaço do museu, atraindo mais de 100 pessoas em cada uma das apresentações.

Em julho, 91 pessoas assinaram o livro de presença. Tendo alcançado a lotação máxima do auditório, o portão foi fechado, porém um grande grupo de pessoas se distribuiu pelas portas que se abrem para a praça e ouviram a apresentação de pé na calçada. Segundo a equipe de vigilância do Museu, estima-se que cerca de 30 pessoas se revezaram na rua para ouvir o órgão de tubos.

Da mesma forma, em janeiro de 2025, o museu ultrapassou a lotação máxima e no livro de presença constaram 114 assinaturas. Mesmo com a chuva fina que caía naquela noite, o público se aglomerou na calçada diante da praça, ouviu, cantou e aplaudiu a apresentação.

Antes dessas datas, o maior público de um recital aconteceu em 07 de julho de 2016, na apresentação da organista Elisa Freixo, com partição de Edmundo Hora. Na ocasião, o Museu recebeu 120 pessoas para o evento – além do recital de inauguração de 2010, quando Elisa Freixo estrou o órgão após o restauro do objeto.

Segundo a diretora do Museu, Maria de Fátima Loureiro Vasconcelos, aquela aglomeração de pessoas interessadas no concerto foi gratificante. “Muitos ficaram de pé na rua, na esperança de liberar lugares aqui dentro. É muito bom ver como a música toca as pessoas, e é muito bom para nós do museu ver que estamos alcançando tanta gente, não só da comunidade local, mas os turistas também”, comenta.

MPB no órgão de tubos

As cinco apresentações da mais recente temporada foram feitas pela cravista e organista Priscila La Gatta. Graduada em Música pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Priscila fez seu mestrado na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), onde se dedicou à pesquisa da música popular brasileira e suas adaptações para instrumento de teclado antigo.

Dessa maneira, e pela primeira vez, os recitais tiveram como temática principal as melodias populares do país. Além das tradicionais peças clássicas, barrocas e modernas, de grandes nomes da música no mundo, como Bach, Mozart e Villa-Lobos, os recitais também contaram com canções de Tom Jobim, Milton Nascimento, Pixinguinha, Noel Rosa, Chiquinha Gonzaga, Caetano Veloso, Flávio Venturini e Ary Barroso.

Além destes, Priscila também trouxe obras de compositores igualmente consagrados, porém menos conhecidos pelo grande público, como Jacob do Bandolim, Ernesto Nazaré, Hamilton de Holanda e Cussy de Almeida.

As temáticas de samba, choro e baião caíram no gosto do público. A combinação inusitada de um instrumento do século XVIII com peças populares do século XX tem chamado cada vez mais atenção dos visitantes, o que pode ser comprovado pelos registros nos livros de visita e mensagens positivas recebidas através das redes sociais.

A interação do público ao vivo, durante as apresentações, também ressalta o engajamento das pessoas e a identificação com as canções. As músicas nacionais são uma das exigências da atual contratação feita pelo Museu. Desde o início do planejamento, a equipe já pensava em exaltar e valorizar a cultura nacional e previu a presença de peças de compositores brasileiros nas apresentações.

Segundo Ana Maria Nogueira Oliveira, técnica em assuntos educacionais e membro da equipe de planejamento dos recitais, essa exigência é uma forma de trazer o instrumento ancestral para mais perto do público atual. “Isto, além de valorizar a música popular brasileira e divulgá-la junto à nova geração, também valoriza o instrumento, pois permite a utilização de novos recursos do órgão”, comenta Ana Maria.

Participações especiais

A convite de Priscila, os concertos contaram também com convidados variados que somaram seus talentos ao som do órgão de tubos do Museu. Ao todo, os recitais contaram com oito participações especiais de seis pessoas convidadas, que acompanharam o órgão com saxofone, violino, percussão e canto.

Leonardo Barreto esteve presente em dois recitais, em dezembro de 2023 e julho de 2024, apresentando-se como saxofonista. Barreto é professor de Saxofone, com graduação, mestrado e doutorado em música pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Outro que participou duas vezes foi o músico Ciro Canton, nos Recitais de Férias de julho de 2024 e fevereiro de 2025, com apresentação de canto lírico e popular. Canton é músico e professor, doutorando em Música pela UFMG, mestre em História da Música pela UFSJ e formado em Canto Popular pela UFSJ e pela Universidade de Música Popular Bituca.

Ítalo Masi e Sofia Leandro estiveram presentes no Recital da Semana Santa, em março de 2024, com apresentação de canto lírico e violino, respectivamente. Nascido em Diamantina-MG, Ítalo iniciou seu envolvimento com a música aos 10 anos. Desenvolveu habilidades como instrumentista de sopro, destacando-se como primeira trompa em uma orquestra local, e explorou seu talento vocal em coros. Em 2018, ingressou na UFSJ para cursar a graduação em Música com ênfase em Canto Lírico, onde tem contribuído ativamente para as atividades musicais da região.

Sofia é formada em Violino e mestre em Ensino de Música pela Universidade de Aveiro, Portugal. Desde 2017, é professora de Violino no Curso de Música da UFSJ. Coordena o programa de extensão Pequenos Grandes Violinistas, voltado para o ensino coletivo de violino a crianças, que atua em parceria com a Ação Cultural Artes Vertentes desde 2020. Integra o Duo Sofia Leandro e Bruno Santos, dedicado à performance de música para violino e percussão.

O saxofonista Marlon Carvalho foi o convidado do Recital de Natal. Ganhador do Prêmio BDMG Jovem Instrumentista, Carvalho é graduado em Música com ênfase em Saxofone pela UFSJ, selecionado para o projeto Bituca de Casa, da Universidade de Música Popular Bituca, e desde 2019 é professor no Conservatório Estadual de Música Pe. José Maria Xavier, em São João del-Rei.

Por fim, o último concerto da temporada contou também com a presença de Fernando Campos Maia, artista plástico e entusiasta do canto popular, já tendo atuado com duos e trios de blues de jazz.

O órgão de tubos

Estima-se que o órgão de tubos do Museu fora confeccionado na segunda metade do século XVIII e pertencera à fazenda Bela Vista, de propriedade do Padre Jeronimo Pereira de Carvalho, em São Miguel do Cajuru, distrito de São João Del Rei. No início do século XIX, o instrumento foi deixado em testamento para a Irmandade de Nossa Senhora do Carmo, onde fez parte das cerimônias religiosas por décadas. Com o passar do tempo, o órgão entrou em desuso e com isso foi silenciado e quase esquecido, relegado ao depósito da Igreja até ser definitivamente trazido ao Museu na década de 1950 – período em que o acervo da instituição estava sendo montado logo após a conclusão da reforma do casarão.

No ano de 2010, o instrumento foi totalmente restaurado. Seu projeto foi coordenado pela Associação dos Amigos do Museu, com o patrocínio da Petrobrás e Itaú Cultural. Os trabalhos foram realizados por uma empresa da Espanha, com organeiros da Alemanha, juntamente com a consultoria da organista Elisa Freixo.

Desde então, o Museu promove, periodicamente, concertos abertos ao público para que todos possam usufruir e conhecer dessa tão importante herança cultural.

Auditório lotado no Recital de Férias, em julho de 2024: com o fechamento dos portões, público ficou nas portas do lado de fora ouvindo a apresentação de La Gatta.
  1. Considerou-se para a pesquisa de público apenas as apresentações cujos recitais fossem o principal ou único evento da noite. Se inseridos em eventos maiores, como simpósios, congressos ou inauguração de exposições, estes recitais foram desconsiderados. ↩︎

Por João Victor Militani