Gente das Vertentes

Nhá Chica

publicado: 28/05/2020 11h37, última modificação: 16/06/2020 10h56

Símbolo de esperança e boa vontade e grande devota de Nossa Senhora da Conceição, Francisca de Paula de Jesus, a Nhá Chica, dedicou sua vida a suas crenças. Seguindo sua fé, ajudou a todos que lhe procuravam, livre de preconceitos. Se tornou famosa por sua capacidade de ouvinte, seus bons concelhos e as orações que fazia por quem a ela recorria.

Nascida em São João del-Rei, na região do atual distrito do Rio das Mortes, em 1810, não ficou muito tempo no município. Mudou-se para Baependi no final de sua infância, junto com a família. Sua mãe, escrava alforriada, faleceu quando Francisca tinha apenas dez anos, deixando a menina responsável por si mesma e por seu irmão Teotônio, de 12 anos.

Durante o difícil momento em que se encontrava, a criança procurou consolo em Deus e na Virgem Maria – tendo nesta última uma figura materna a quem procurava quando precisava de concelhos. Tão íntima se tornou, que chamava a santa de “Minha Sinhá” (que significa “minha senhora”).

A vida de Francisca foi dedicada à sua fé. Nunca se casou, se concentrando em sua crença e na ajuda ao próximo – e aqueles que buscavam seus conselhos e sua caridade foram se tornando cada vez mais numerosos. Tantas pessoas, de tantos lugares e por motivos tão diferentes a procuravam que, ainda em vida, ficou conhecida como “mãe dos pobres” ou “Santa de Baependi”.   

Analfabeta por escolha, a única coisa que sentia vontade de ler eram as Escrituras Sagradas e aceitava de bom grado que alguém as recitasse para ela.

Por 30 anos reuniu doações para a construção da capela dedicada à Virgem Maria. A igreja foi construída ao lado da casa de Francisca e contava com uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, que outrora pertencera à sua mãe. O santuário ficou conhecido como “Igrejinha de Nhá Chica” e, futuramente, se tornaria “Santuário Nossa Senhora da Conceição”, o que permanece sendo ainda nos dias de hoje.

A são-joanense que se tornou a primeira mulher brasileira, negra e leiga (cristã não-membro da Igreja), a ser declarada beata pela Igreja Católica faleceu no dia 14 de junho de 1895. O título que recebeu, no entanto, não foi imediato. Tão pouco seu sepultamento, que ocorreu apenas no dia 18 daquele mês, tamanho era o número de pessoas que queriam vê-la e se despedir da mulher que a tantos ajudou e acolheu.

Sua beatificação foi sugerida em 1993 e, 20 anos depois, Nhá Chica foi intitulada beata pela Igreja Católica. A beatificação ocorreu após o Vaticano reconhecer seu primeiro milagre, ocorrido cem anos após sua morte. De acordo com o processo da Igreja, uma professora de Caxambú, após orações à “Santa de Baependi”, teria se curado milagrosamente de uma doença congênita no coração.

Hoje, a igreja que ajudou a fundar é guiada pela Congregação das Irmãs Franciscanas do Senhor, que também é responsável pelo Instituto Nhá Chica: uma obra de assistência social que acolhe crianças necessitadas e que é mantido com a ajuda de devotos da beata – que já conta aproximadamente 20.000 graças alcançadas por sua intercessão, segundo o “Registro de graças do Santuário”.

Em 2019, o dia 14 de junho se tornou feriado municipal em São João del-Rei, uma homenagem a são-joanense que se tronou importante para cristãos de todo o Brasil.