Gente das Vertentes

João da Cruz Magalhães, o Ginego

O carnavalesco foi uma das figuras mais conhecidas desta festa popular são-joanense.

publicado: 21/02/2020 09h35, última modificação: 21/02/2020 09h35

O carnaval de São João del-Rei é umas festas mais esperadas do ano pela população da cidade e dos municípios vizinhos. Muito dessa ansiedade se deve ao fato do evento carregar inúmeras histórias que permanecem no imaginário popular até hoje. E um dos responsáveis por tantos momentos marcantes foi João da Cruz Magalhães. Conhecido popularmente como “Ginego”, o carnavalesco foi uma das figuras mais importantes desta festa popular são-joanense.

Nascido em 24 de novembro de 1927, na conhecida Rua das Flores, em São João del-Rei, João recebeu o apelido de sua avó. Originalmente, era chamado “Cinego”, porém o nome foi alterado para Ginego por amigos. O carnavalesco trabalhava como marceneiro, mas também era músico e sambista. Inclusive foi integrante da Orquestra Ribeiro Bastos e da Sociedade de Concertos Sinfônicos de São João del-Rei.

O interesse de Ginego pelo carnaval começou por volta de 1938, quando ele tocou cavaquinho no rancho do Boi Gordo. Ao longo do tempo se envolveu com outros eventos desta festa. Em 1942, o carnaval foi suspenso em todo o país por influência dos militares, em decorrência da Segunda Grande Guerra. Quatro anos depois, toda a sociedade brasileira pode vivenciar a festa novamente. Já em 1947, Ginego foi um dos fundadores do bloco “Depois Eu Digo”. O grupo se tornou escola de samba ainda no ano seguinte e desfilou até 1950. Após um intervalo de uma década, o “Depois Eu Digo” retornou suas atividades em 1960 e permaneceu ativo até meados dos anos 1980.

Gineco saiu da escola de samba em 1976, ao se mudar para São Paulo. Durante o período em que foi um dos diretores da agremiação, o carnaval de São João del-Rei foi considerado o terceiro melhor do Brasil, perdendo apenas para Rio de Janeiro e Recife. A revista “O Cruzeiro” – responsável por essa classificação – e outros veículos de comunicação da época dedicaram diferentes matérias ao carnaval realizado no município do Campo das Vertentes.

A história do “Depois Eu Digo” está atrelada a dois sambas cantados até hoje. O primeiro é de 1949 e se chama “Surpresa”. Em entrevista concedida em 2017, o próprio Ginego explica que algumas pessoas acreditam que foram dois diretores da escola que compuseram a canção. Já outros afirmam que a canção possui origem carioca. “Surpresa” chegou a ser gravado pela cantora Clara Nunes, entre os anos de 1957 e 1958.

Ainda na mesma entrevista, o carnavalesco relembra o segundo samba, de 1950,  intitulado “Lágrimas” e composto por Roberto, um dos diretores da agremiação. Segundo Ginego, o compositor não iria desfilar aquele ano devido ao falecimento de sua mãe e compôs a música em sua homenagem.

Devido a sua contribuição para o carnaval da cidade, Ginego recebeu homenagens no início dos anos 2000. As honras foram feitas pelas escolas “Vem Me Ver”, do Bairro Tijuco e “Unidos do São Geraldo” do bairro de mesmo nome. Além disso, em 2015, ele recebeu do Movimento Afro-descendente TucanAfro a “Comenda Dom Lucas Moreira Neves”.

João da Cruz Magalhães se recuperava de um AVC quando faleceu, no dia 03 de maio de 2019, aos 91 anos.

Assista ao documentário completo, produzido pela TV Del-Rei.