
Com uma vida praticamente inteira dedicada à música, Aluízio José Viegas foi músico, pesquisador, musicólogo, maestro, diretor e exerceu outros ofícios ao longo dos seus 74 anos de vida. Devido à sua dedicação, contribuiu para que a música sacra mineira se tornasse tema de diferentes estudos, e trabalhos nacionais e internacionais.
Membro de uma uma família numerosa, Aloísio nasceu em São João del-Rei, no dia 26 de março de 1941. O futuro maestro era o caçula de 12 filhos do casal Henrique de Assis Viegas e Maria José Barbosa Viegas. Por influência do pai, Aloísio teve contato com o mundo da música ainda criança, já que seu pai sempre o levava à celebrações religiosas, e as apresentações musicais desses eventos despertavam a atenção do garoto. A música estava presente em seu cotidiano, não somente por meio de missas ou festas religiosas, mas também como parte do dia-a-dia da família Viegas como um todo – já que eles residiam na mesma vizinhança da Orquestra Ribeiro Bastos e da Lira Sanjoanense.
Em 1960, aos 19 anos de idade, Viegas recebeu um convite do maestro Pedro de Souza para fazer parte da Orquestra Ribeiro Bastos. Inicialmente, Aloísio começou tocando violoncelo e depois passou a tocar flauta e contrabaixo. No mesmo ano, ele começou a trabalhar no arquivo musical da Lira Sanjoanense, encarregado de fazer cópias das obras que estavam em uso no momento. Esse ofício na Lira foi crucial para que, três anos depois, em 1963, ele realizasse a montagem de partituras de compositores como Emerico Lobo de Mesquita, Padre João de Deus Lobo, dentre outros.
Entre o final da década de 1950 e o início dos anos de 1960, Aloísio soube que parte da obra musical de Japhet Maria da Conceição, herdeiro de Martiniano Ribeiro Bastos, estava sendo destruída. Mesmo com dificuldades financeiras, Viegas conseguiu salvar algumas peças musicais. Dentre as peças que salvou, estava uma partitura com o autógrafo do compositor italiano Gioacchino Rossini. Essa partitura era da canção “Messa Di Gloria”, uma das músicas mais importantes do repertório de Rossini.
A partir desse trabalho com as peças musicais, em 1963, o futuro maestro trabalhou com muitos pesquisadores e musicólogos. Além disso, fez parte do grupo de pesquisa da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) denominado como “O Ciclo do Ouro: o tempo e a música no barroco católico”. Ele ainda contribuiu para a elaboração de projetos musicais como o “Acervo Curt Lange” do Museu da Inconfidência/Casa do Pilar, em Ouro Preto, e também para a Fundação Nacional de Artes (FUNARTE).
Desde o ano de 1978, Aloísio dedicou parte do seu tempo na realização de palestras sobre a música sacra, tanto sobre a mineira quanto a brasileira em geral. Em suas apresentações ele também falava sobre a cultura de São João del-Rei, abordando assuntos como a linguagem dos sinos, a história da Ordem Terceira do Carmo e outros temas ligados à cidade.
Com tantas pesquisas a respeito da música sacra, ele se tornou um profundo conhecedor desse tipo de obra, sobretudo, daquelas datadas entre os séculos 18 e 19. Ele também revisou, produziu e montou um grande número de partituras que foram usadas pelos conjuntos musicais da cidade. Além de ter contribuindo para a elaboração de catálogos, livros, arquivos e outras publicações sobre música sacra – tornando-se um nome de destaque nesse mundo, tanto a nível nacional quanto internacional. É importante citar que ele também se tornou um especialista na vida e obra de Padre José Maria Xavier, um dos mais importantes compositores de São João del-Rei.
Viegas também trabalhou como servidor na Universidade Federal de São João del-Rei e, em paralelo, realizou trabalhos em diferentes instituições. Ele foi maestro e diretor da Orquestra Lira Sanjoanense e da Sociedade de Concertos Sinfônicos de São João del-Rei. Ocupou o cargo de pesquisador na Cúria Diocesana e também no Museu de Arte Sacra d cidade.
Aos 74 anos, Aluízio José Viegas faleceu, em 27 de julho de 2015, devido às complicações de um AVC. Seu corpo foi velado na sede da Lira Sanjoanense e, no enterro, tanto esta quanto a Orquestra Ribeiro Bastos prestaram homenagem ao musicólogo.
Fontes:
Modestíssimo tributo à memória do maestro Aluízio José Viegas (Pátria Mineira)
ALUÍZIO JOSÉ VIEGAS (☆1941 ✞ 2015): “Eu, antes de mais nada, sou um amante das coisas da minha terra.” (Blog de São João del-Rei)
Aluízio José Viegas (São João Transparente)