Por Schirley F. N. S. C. Alves
Possui graduação em Engenharia Agricola pela Universidade Federal de Lavras (1987), mestrado em DEA – Jardins, Paysages, Territoire – Ecole des Hautes Études en Sciences Sociales (1996) e doutorado em Geographie – Université Paris 1 Pantheon-Sorbonne (2006). Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Floricultura, Parques e Jardins, atuando principalmente nos seguintes temas: paisagismo, historia, paisagem, ecoturismo e jardins.
O Largo Tamandaré desde o início da história de São João del-Rei, marcava a entrada da cidade, pois tanto os viajantes que vinham do sul quanto os que vinham do Rio de Janeiro, adentravam na vila por este Largo.
No século XVIII, essa era uma região de lavagem de roupas e escoamento de dejetos. Mesmo assim, em 1795, o Largo Tamandaré foi palco das procissões de comemoração do nascimento do príncipe Dom Antônio, filho da Princesa Carlota Joaquina.
Com a construção do cais em 1802, se formou o Largo, e assim este lugar recebeu seu primeiro nome: Praça da Praia. Nesta época, este local era conhecido também como Rocio – local onde se paravam os cavalos e as pessoas se preparavam para entrar ou sair da vila, mostrando uma apropriação informal deste espaço.
Em 1859, a construção do casarão do comerciante Comendador João Antônio da Silva Mourão torna essa região mais nobre, incrementando o comércio do local.
Em 1887, a então Praça da Praia, foi designada oficialmente, pelo Código de Posturas da época, como local de feira e como um dos locais para parada das tropas que supriam o comércio da cidade. Depois da morte do Marquês de Tamandaré, em 1897, a Praça da Praia recebeu o nome de Largo Tamandaré.
Do decorrer do século XIX até meados do século XX, este Largo se consolidou como ponto de chegada das Tropas e como importante local comercial, abrigando lojas, armazéns atacadistas e fabriquetas. Sua vocação comercial foi tamanha que, na década de 1920, o mesmo abrigava empresas como a Agencia Ford e o célebre Comércio do Avelino Guerra.
Após o falecimento do Prof. Severiano Nunes Cardoso de Resende (1847 – 1920), o Largo Tamandaré passou a ser chamado oficialmente de Praça Severiano de Resende. Mas o nome Largo Tamandaré foi o que ficou mais conhecido, sendo empregado até hoje pela maioria da população.
Nas décadas de 1970 e 1980, este Largo era um ponto comercial importante, pois ali se tinha a presença de Bancos, Sorveterias e Casas de Materiais de Construção. E ainda contava com sua vocação para atracar os cavalos que chegavam na cidade, pois ali se atracavam os animais que transportavam lenha para abastecer restaurantes e padarias da cidade.
A história dessa Praça conta com a presença de três monumentos: o Chafariz da Legalidade, o casarão do Comendador João Antônio da Silva Mourão e o Pelourinho. Entre 1832 e 1895, a Praça recebeu o Chafariz da Legalidade, cujo frontispício se encontra atualmente na Praça dos Expedicionários. Este Chafariz era conhecido como Chafariz dos Arcos, pois englobava um aqueduto que se estendia paralelamente ao córrego do Lenheiro, desde a ponte do Rosário até o Chafariz propriamente dito, que se encontrava na Praça, no rumo da fronteira entre a mesma e o Beco da Romeira. O majestoso casarão do Comendador João Antônio da Silva Mourão, onde se encontra atualmente o Museu Regional de São João del Rei, foi Construído em 1857, por determinação do próprio Comendador, para abrigar seu comércio e sua residência. E o Pelourinho, já em 1955, esteve alojado nesta Praça, mas hoje em dia se encontra novamente no Largo da Câmara.
O tratamento paisagístico da Praça deste Largo teve seus primeiros indícios no início do século XX, mais precisamente na década de 1900, quando o mesmo contou com o plantio de árvores delimitando sua área de tráfego. Tudo indica que seu primeiro ajardinamento ocorreu na década de 1930, período em que houve um estímulo por parte das autoridades governamentais para embelezar as cidades. Neste projeto, a Praça ficou com seu traçado dividido em dois blocos: um de forma trapezoidal, e outro triangular. A disposição de seus bancos e a forma de ordenamento de seus caminhos criou certo isolamento entre sua parte interna e seu entorno. Mas tudo indica que, nessa época, a Praça era frequentada pelos comerciantes e moradores do seu entorno, pois não existe nenhuma referência da mesma como ponto de footing da cidade.
Já década de 1950, apesar de seu traçado ter sido mantido, sua manutenção não estava adequada. Nesta época, a Praça já não contava mais com a presença de bancos, pinheiros, e nem mesmo das roseiras. A Praça ficou desleixada, restando apenas um gramado ralo e alguns arbustos podados em formas de esfera. Não se sabe ao certo a causa desse descuido para com a Praça, talvez sua prática social, de receber tropeiros, exigisse um ajardinamento mais despojado. Nota-se ainda que, nesta época, as árvores plantadas em 1930 já se encontravam em um avançado estado de desenvolvimento. Porém, com o término da reforma do Casarão, em 1952 as árvores da Praça foram cortadas, prática empregada neste período para realçar construções arquitetônicas históricas.
Em 21 de setembro de 1951, as árvores já altas ocupavam os canteiros do traçado original da praça, que seria desfeito alguns anos depois. Destaque para os dois homens bateando ouro no leito do Córrego do Lenheiro. Foto: Arthur Arcuri / MRSJDR.
Parte do casario que ocupava o largo por volta de 1952. Detalhe para a escada que dava acesso ao córrego, ainda na época do aqueduto, demolido em 1895. Foto: Acervo MRSJDR / Autor Desconhecido.
Na década de 1960, a Praça começou a ser o palco de um dos eventos que marcam a memória dos Sanjoanenses: as festas juninas. Sua primeira edição, organizada por D. Caetana Resgala e Cenira Rocha, ocorreu em 1961. Essas duas senhoras continuaram organizando as festas juninas até 1964, quando a Secretaria de Turismo da prefeitura as adotou. Nestas festas eram montadas arquibancadas e tablados que serviam de palco para as apresentações de quadrilhas e danças folclóricas, além das barraquinhas que serviam deliciosas pizzas. As Festas Juninas continuaram ocorrendo nesta Praça até a década de 1970, época em que foram transferidas para a Avenida Tancredo Neves.
O atual traçado da Praça foi concluído entre as décadas de 1970 e 1980, quando sua parte próxima ao Museu foi modificada. Esta modificação a desvalorizou muito pois, além de ter perdido grande parte de sua área, desfez a unidade do seu conjunto e modificou radicalmente a sua apropriação social, transformando o jardim em uma área de estacionamento.
Até o momento – no ano de 2020 – a Praça Severiano de Resende presta homenagem com seus bustos, estátuas e marcos à Tiradentes, Aleijadinho, Mateus Salomé de Oliveira, D. Celina Viegas e às mulheres mineiras de destaque no cenário político estadual e nacional.
Ainda tratando-se de 2020, a composição vegetal da Praça conta com um gramado intercalado por espécies arbóreas e palmáceas. Dentre as árvores foram identificadas: Ipê, Handroanthus sp; Sibipiruna, Caesalpinia sp.; Flamboyant, Delonix régia; Pau ferro, Caesalpinia férrea; Pinheiro de Natal, Araucária colummaris. E dentre as palmáceas identificou-se: Areca bambu, Dypsis lutescens e a Tamareira de jardim, Phoenix roebeleni. O entorno de seus canteiros são delimitados por meio fio branco, e seus caminhos de cimento.
A Praça Severiano Rezende sempre contou com a presença de atividades comerciais, acolhendo os tropeiros, lidando com comércio atacadista, local e de produtos agrícolas. Foi a principal porta de entrada de São João del Rei, funcionando como um marco dos limites da cidade histórica.
Em 26 de fevereiro de 1955, as árvores já haviam sido arrancadas e praça se preparava para reforma. Foto: Arthur Arcuri / MRSJDR. Em 1º de maio de 1955 os canteiros já estavam desfeitos e o largo tomado por escombros. Ao fundo, o casarão já totalmente restaurado. Foto: Arthur Arcuri / MRSJDR. Registrada de uma das janelas do museu, provavelmente na década de 1960, esta foto já mostra o novo traçado da praça, com menos canteiros e mais espaços para estacionamento. Destaque para o monmento do jornalista e deputado Mateus Salomé, instalado na ponta da praça em 1956. Foto: Acervo A Antiga SJDR / dig.: A. F. Giarola / Autor Desconhecido.
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