A Cidade

Os primeiros povoadores de São João del Rei foram paulistas, atraídos pelos cascalhos auríferos da bacia do rio das Mortes, que “assoalhavam o caminho trilhado pelos bandeirantes”, indicando os grandes depósitos de ouro da região. Em fins do século XVII, Tomé Portes del Rei, procedente de Taubaté, fixou-se nas margens do rio das Mortes, onde surgiu o primeiro arraial. Chamado “Porto Real da Passagem”, por ser passagem de todas as embarcações, até 1703, a importância do povoado decorria de sua situação como ponto de ligação com os Sertões de Caeté e a região das minas do Carmo, Ouro Preto e Sabará.

Entre 1703 e 1704, o português Manuel João de Barcelos descobriu, nas fraldas dos montes, ricas manchas de ouro, e os paulistas Pedro do Rosário e Lourenço da Costa iniciaram os trabalhos de faiscação. Forasteiros e aventureiros começaram a afluir à região. Nas encostas das serras, atualmente denominadas Senhor do Monte e Mercês, surgiu o outro arraial – o do Rio das Mortes – com sua igrejinha no Morro da Forca consagrada à Nossa Senhora do Pilar que deu origem a São João del Rei.
 
O arraial surgiu de maneira bastante dispersa e se instalou, simultaneamente, em dois pontos elevados, localizados em torno do vale do córrego do Lenheiro, atualmente assinalados pelas igrejas do Senhor dos Montes e de Nossa Senhora das Mercês (margem esquerda) e pela Capela do Senhor do Bonfim, em local então denominado Morro da Forca onde surgiram os primeiros arruamentos, compostos por casas toscas cobertas de palha (margem direita).
 
A partir da elevação da cidade à categoria de vila, em 1713, São João del Rei cresceu, tanto em importância dentro da região das minas quanto em espaço urbano. Escolhida para sede da nova Comarca do Rio das Mortes, em 1714, em virtude de seu desenvolvimento expressivo, a cidade ganhou, até a metade do século XVIII, várias edificações civis e religiosas que funcionavam como fatores de polarização de novas construções. Em 1719, foi construída a primeira ponte sobre o córrego do Lenheiro, possibilitando a integração definitiva das duas partes da vila. 

Em princípios do século XIX, antes de ser elevada à categoria de cidade, contava com cerca de mil edificações. Afirmou-se pelo seu amplo desempenho comercial e abastecia, entre outras localidades, a cidade do Rio de Janeiro, com a qual mantinha laços comerciais bastante dinâmicos. Na segunda metade do século XIX, a cidade contava com um número bastante expressivo de estabelecimentos comerciais, e recebeu um impulso maior com a criação da Estrada de Ferro Oeste de Minas. 

A construção da estrada de ferro (1878-1881) e a chegada, em 1886, de imigrantes procedentes de Bolonha e Ferrara (Itália), aceleraram o progresso do município. Os italianos, destinados ao trabalho na  agricultura, instalaram-se na Várzea do Marçal, onde formaram as colônias do Marçal, Recondego e Felizardo, e na Fazenda José Teodoro. Posteriormente, grande número de sírios fixou-se no município, dedicando-se de preferência ao comércio.

Preservação e arquitetura e paisagem

O conjunto arquitetônico e urbanístico de São João del Rei foi tombado pelo Iphan, em 1938. O tombamento não definiu a delimitação da área urbana a ser preservada, o que aconteceu em 1947. O núcleo histórico constituía, na época, a área mais íntegra, onde estão igrejas, capelas, pontes e os Passos da Paixão. O conjunto de bens imóveis tombados totalizam cerca de 700 imóveis.

A cidade – com suas ladeiras, igrejas, museus e casario – guarda a riqueza obtida com o ouro e revela aos seus visitantes o estilo de vida dos mineiros, além de apresentar magníficas edificações do barroco brasileiro. A exemplo do ocorrido com outras cidades coloniais mineiras, originárias da exploração do ouro, a formação de São João del Rei se deu com a aglutinação de pequenos núcleos que surgiram junto aos locais de mineração. Assim, a ocupação inicial ocorreu de maneira bastante dispersa e rarefeita, limitando-se a espaçados agrupamentos de casas baixas em torno de uma pequena capela. 

A sua arquitetura religiosa segue, em sua maior parte, os padrões tradicionais das matrizes mineiras, com a clássica disposição de planta em nave, capela-mor, sacristias e corredores laterais, tendo a fachada organizada em um corpo principal ladeado por duas torres, geralmente de perfil quadrado. Quanto à ornamentação, as igrejas obedecem, principalmente, aos padrões artísticos vigentes em Minas Gerais na segunda metade do século XVIII e início do XIX, correspondendo a composições do gosto rococó. 

Fontes: IPHAN – São João del-Rei e IPHAN – História