Atualmente quando se coloca as palavras São João del-Rei e cinema na mesma frase, elas quase sempre vêm seguidas de Cine Glória. E quando se fala em Cine Glória é impossível não citar o proprietário, que há 40 anos administra o local: Wellerson Itaborahy, o Lilinho, que desde o início da adolescência tem sua vida atrelada ao mundo do cinema.
Nascido em Juiz de Fora em 1944, o empresário se mudou para São João del-Rei ainda em 1978 e, desde então mantém viva a história do Sétima Arte no Campo das Vertentes – uma tradição bem mais antiga do que se imagina.
Apesar de inventado em 1895, na França, o cinema como é conhecido hoje, com as perspectivas narrativas, só apareceria em 1907, e precisaria de mais alguns anos para ganhar o apelo comercial que possui até hoje.
Minas Gerais, por sua vez, também possui uma história profunda com essa arte. O primeiro filme falado da história do cinema usou como base uma tecnologia criada em Pouso Alegre, no Sul do Estado. É natural então que os mineiros tenham um vínculo com as salas de exibição. São João del-Rei não seria diferente.
A Sétima Arte está presente na história e na cultura da cidade desde 1905, quando ocorreram as primeiras exibições. Logo algumas sessões começaram a ocorrer no Teatro Municipal e, já em 1909, duas salas de cinemas estavam em funcionamento em São João del-Rei.
Fundado em 1947, o Cine Glória foi uma iniciativa da prefeitura e da empresa F. Cupello e Cia. LTDA – para substituir o Cine Capitólio, que teve suas atividades encerradas sete anos antes. Na década de 1960, houve a primeira mudança de donos, passando para a empresa Lombardi, que administrou o lugar até 1979. Foi nesse ano que Wellerson Itaborahy assumiu a posição de dono e administrador do prédio, que ocupa até hoje.
Interessado pela Sétima Arte desde muito jovem, com 14 anos Lilinho já trabalhava na distribuidora de filmes Continental e, com 22, possuía pequenas salas de cinema espalhadas pela cidade onde nasceu. Com o tempo passou a vender algumas que já possuía e comprar outras – tornando-se proprietário de diversas salas cinemas em várias cidades da região.
Adquiriu o Cine Glória enquanto trabalhava para a distribuidora MG Cordeiro, de Belo Horizonte. Naquela época, a sala estava em crise e lhe fora oferecida pelo filho do então proprietário do empreendimento. Durante 1979, Lilinho conseguiu reerguer o cinema e, no último dia daquele ano, adquiriu em definitivo a propriedade do empreendimento.
Foi sob sua administração que o cinema evoluiu de todas as formas, tendo recebido filmes de fama internacional, como “Titanic”, “O Rei Leão”, “A Paixão de Cristo” e tantos outros. Segundo ele, no entanto, o filme que mais trouxe pessoas para a sala foi o nacional“O Trapalhão no Planalto dos Macacos”: “eu botei pra dentro 3.900 pessoas num domingo. Fiz cinco sessões neste dia […] Nas sessões que lotavam, tinha gente que não se importava de sentar no chão só pra não ficar sem ver o filme.”, diz ele.
No entanto, nem sempre foi um mar de rosas. Nos anos 80 a indústria cinematográfica nacional recebia apoio da Empresa Brasileira de Filmes S.A. (a Embrafilme), que não apenas investia na produção dos filmes, como também legislava o cenário e obrigava as salas a exibirem produções nacionais durante um terço do ano. Justamente essa obrigatoriedade levou o Cine Glória a se tornar o único cinema da região, pois os filmes nacionais produzidos na época seriam sucessos de bilheteria – como os filmes dos Trapalhões – ou fracassos épicos que afastavam o público – como as pornochanchadas.
Lilinho conta que passou tempos difíceis, tendo que deixar de comprar comida para comprar o carvão que o Cine Glória precisava para continuar funcionando. Ele conseguiu dar uma reviravolta ao abrir a vídeo-locadora “Cine Glória Vídeo”, que ainda funciona no bairro Fábricas.
O advento do vídeo cassete, depois do DVD, da Internet e, por fim, dos canais de streaming, prejudicou muito as salas de cinema, sendo responsáveis pelo encerramento de várias delas. Mesmo assim a administração, o amor e o empenho de Wellerson Itaborahy fizeram com que o Cine-Glória não só sobrevivesse, mas prosperasse.
Com informações do site do Cine Glória.
Por Brenda Guerra e João Victor Militani