Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça, natural de São João del-Rei, foi uma mulher à frente de seu tempo. Grande ativista do feminismo, foi uma das líderes do movimento no Brasil e, em 1931, era nomeada como representante do país no II Congresso Internacional Feminista ocorrido no Rio de Janeiro. Ao longo de sua vida também desempenhou vários outros papeis que, mesmo indiretamente, se ligavam com a luta por igualdade social e política para as mulheres.
Filha dos condes de Afonso Celso e neta do Visconde de Ouro Preto, Maria Eugênia era descendente de Maria Tereza Batista Machado – que deu nome à Escola Estadual Maria Tereza, no centro de São João del-Rei. Desde seu nascimento, em 1886, ela teve grande contato com a cultura e história, visto que o pai ocupava cargo importante no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e que sua família tinha boas condições financeiras.
Durante a infância, mudou-se para a cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro, onde viveu a maior parte da vida e frequentou o colégio Sion. Também foi nesse Estado que começou sua luta pelos direitos das mulheres e o que veio a ser uma brilhante carreira jornalística e artística.
Por 45 anos Maria Eugênia trabalhou como fundadora e redatora da primeira coluna social do país no “Jornal do Brasil”, além de manter a coluna “Pagina de Eva”, na “Revista da Semana”. Como a feminista que era, não poderia deixar de escrever reportagens em prol da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), que eram publicadas, principalmente, pelo “Jornal do Brasil”.
Além do trabalho jornalístico, Maria Eugênia também escrevia por arte. Reconhecida como talentosa poetisa e autora, teve suas obras publicadas nas revistas “O Galo”, “Fon-Fon” e “Revista da Semana”, onde assinava com o pseudônimo de “Baby-Flirt”.
Sua atuação no mundo jornalístico lhe rendeu um bilhete para as rádios, o que a deixou famosa. Trabalhou como desenvolvedora e apresentadora para as emissoras “Nacional”, “Sociedade” e “Jornal do Brasil”, se tornando um ícone de sua época como locutora do programa “Quartos de Hora Literária”.
Ao mesmo tempo em que exercia as funções acima, ela também seguia com um cargo no Ministério da Educação e Cultura e participava ativamente do movimento feminista do início do século lutando ao lado de Bertha Lutz (outra grande representando do feminismo brasileiro) e de outros grandes nomes em favor da emancipação política e social da mulher. Chegou a exercer o cargo de vice-presidente da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Em 1934 foi uma das responsáveis, junto com Lutz e Jerônima Mesquita, pelo Manifesto Feminino ou Declaração dos Direitos das Mulheres.
Tudo enquanto vivia em um mundo que dizia que mulheres não podiam, no qual trabalho feminino não era bem visto ou mesmo aceito. Trabalhou na Cruz Vermelha Brasileira, na Pró-Matre, na Cruzada Nacional contra a Tuberculose, na Beneficência dos Lázaros e na Liga dos Cegos do Brasil.
Após sua morte em 1963, uma rua carioca recebeu seu nome e Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça se tornou patrona de duas cadeiras acadêmicas: uma delas na Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul e a outra na Academia de Letras de São João del-Rei.
Por Brenda Guerra e João Victor Militani