Autor de um dos livros mais populares sobre São João del-Rei, Lincoln Teixeira de Souza marcou a história da cidade ao contribuir com o jornalismo local, se dedicar à cultura popular e levar o nome de sua terra natal para o imaginário das pessoas de diversas outras localidades do país. Tendo a cidade como cenário de muitos de seus trabalhos, o literato são-joanense deixou um vasto legado de poesias, crônicas, artigos jornalísticos e outras obras.
Nascido em 20 de junho de 1894, Lincoln foi incentivado pelo pai desde a infância. O relojoeiro Fernando Manoel Pereira de Souza escrevia tirinhas e textos para despertar no filho o gosto pela leitura e escrita. O empenho do pai surtiu efeito sobre o garoto que, ainda na adolescência, deu início a um jornal local, que noticiava acontecimentos amenos da cidade. Ele gostava de contar os fatos do cotidiano dos moradores dos diferentes bairros de São João del-Rei.
A partir desse primeiro trabalho, o futuro jornalista passou quatro anos se dedicando intensamente à escrita e à produção artística e de caricaturas. Entre 1915 e 1919, Lincoln passou a escrever para jornais de municípios vizinhos e a fazer apresentações artísticas. Em sua própria cidade, ele também contribuiu para o desenvolvimento da imprensa. Seguindo o modelo de um jornal carioca, escreveu uma reportagem de tema menos noticioso e mais cultural e biográfico. A matéria contava a vida de um curandeiro são-joanense, de grande credibilidade entre os moradores locais. Após o sucesso do artigo, acredita-se que temas mais diversificados puderam ser tratados na imprensa de São João del-Rei, revolucionando o estilo jornalístico da época.
Ainda em São João, Lincoln deu início a um trabalho pioneiro, montando reportagens a partir de fotografias. Os recursos da época dificultavam a diagramação e impressão de periódicos com fotografias, então o jovem jornalista afixava fotos na porta da redação do “Minas-Jornal” e trabalhava as imagens em formato de notícia. Utilizando dessa técnica, seus assuntos mais abordados foram o esportivo e o policial – duas temáticas que agradavam muito a sociedade da época. Esse método era eficaz não apenas por burlar as dificuldades técnicas do período como também por agilizar a publicação da informação.
Em 1920, ele se muda para Belo Horizonte. Na capital mineira, Lincoln entra definitivamente para a profissão de jornalista e coleciona passagens por diferentes jornais e revistas. Em um deles, O Diário de Minas, chegou a trabalhar lado a lado com outro grande poeta mineiro, Carlos Drummond de Andrade.
Além da imprensa periódica, Lincoln também almejava a literatura. Um de seus primeiros trabalhos como escritor foi dedicado à sua cidade natal e foi, talvez, o mais importante de sua carreira: o livro “Contam que…”, que reúne uma série de lendas são-joanenses e histórias da cultura popular. A publicação, que em 2020 completa um século de seu lançamento, se tornou base para peças de teatros e referência nos estudos de cultura popular de São João del-Rei. O livro já possui mais de 10 edições.
A permanência em Belo Horizonte durou apenas dois anos, partindo em seguida para o Rio de Janeiro. Na então capital nacional, ele dá continuidade aos trabalhos de escritor e jornalista. Na cidade carioca, o mineiro tem a oportunidade de realizar coberturas internacionais e atua em vários periódicos, permanecendo por doze anos no “A Noite”, fundado por Irineu Marinho, do Grupo Globo. Lincoln ainda teve passagens rápidas por veículos de comunicação de São Paulo e Sergipe.
Em 1965, já idoso, o são-joanense realizou uma grande doação para o Conservatório Estadual de Música Padre José Maria Xavier. Foram cerca de 144 peças de seu acervo pessoal. A ação contava com móveis, livros, desenhos e objetos que ele adquiriu ao longo de suas viagens nacionais e internacionais. Todo esse acervo ficou exposto na instituição, na Sala Lincoln de Souza.
O jornalista também contabilizou prêmios e homenagens ao longo da vida. Em 1953, o livro “Entre os Xavantes do Roncador”, de sua autoria, foi premiado pela Academia Brasileira de Letras. Em sua terra natal, ele recebeu uma homenagem por parte do Centro Artístico e Cultural de São João del-Rei e também foi reconhecido como patrono do Instituto Histórico e Geográfico da cidade, ocupando a cadeira de número 22.
Lincoln de Souza dedicou seus últimos anos de vida a alguns trabalhos jornalísticos e à escrita de suas últimas obras. No dia 11 de agosto de 1969, aos 75 anos, Lincoln Teixeira de Souza faleceu no Rio de Janeiro.