O personagem do Gente das Vertentes desse mês foi um homem à frente de seu tempo: um religioso ligado às causas operárias, que promoveu ideias e fundou organizações que, somente anos depois de sua morte, seriam adotadas pelo governo brasileiro.
Frei Cândido Wroomans, da Ordem dos Franciscanos Menores, nasceu na Holanda em 1868, mas durante 30 anos viveu em São João del-Rei e, nesse período, organizou diversos projetos que contribuíram para o desenvolvimento sócio-econômico e cultural de inúmeras famílias da região.
A vinda do franciscano para a cidade se deu em julho de 1907, aos 39 anos de idade. Visionário, igualitário, humanista e ciente de conceitos como inclusão cultural e qualificação profissional, poucos dias após sua chegada Frei Cândido já se reunia com operários da Estrada de Ferro Oeste de Minas. A intenção era discutir as condições de trabalho e a preocupante situação econômica e educacional dos trabalhadores são-joanenses.
Falou com ânimo e racionalidade durante a reunião, de forma a convencer quem o escutava. Alguns dias depois surgia a Associação Católica Operária de São João del-Rei (ACO), focada principalmente nos trabalhadores das indústrias têxteis do município. Com ela, a Biblioteca da Classe Operária e a União Popular – dentre outros projetos condizentes com as crenças do frade e as necessidades da classe trabalhadora.
Pouco depois de sua chegada ao Brasil, ainda em 1909, se envolveu diretamente na fundação do Ginásio Santo Antônio – cujo prédio atualmente pertence à Universidade Federal de São João del-Rei. Assumiu o cargo de diretor do colégio e chegou a dar aulas ao futuro presidente Tancredo de Almeida Neves – o que renderia uma divertida passagem na biografia do político.
Os movimentos trabalhistas já movimentavam a Europa desde meados do século 19, com o desenvolvimento das indústrias e a consolidação do capitalismo. Entretanto, o Brasil só passaria pelo processo de industrialização no início do século 20. O primeiro Congresso Operário nacional aconteceu em 1906 e, menos de um ano depois, com a criação da ACO, Frei Cândido instaurava em São João del-Rei as bases do que viriam a ser os futuros movimentos sindicais – mais de 20 anos antes da criação do Ministério do Trabalho.
O holandês não atuou apenas em favor das causas trabalhistas. Em 1912, foi responsável pela inciativa que deu origem ao “Asilo Santo Antônio” – atualmente conhecido como Albergue Santo Antônio, que atende idosos de toda a região. Seu objetivo era dar socorro aos pobres e aos desvalidos que perambulavam pelas ruas da cidade. Se manteve na direção da instituição até 1927, quando o cargo passou a ser ocupado pelas Irmãs Carmelitas.
A partir 1915, junto a Monsenhor Gustavo Ernesto Coelho (1853-1924) e através do apoio da União Popular, Frei Cândido se tornou editor do “Ação Social”: jornal que carregava em suas páginas o objetivo de “trabalhar na realização dos princípios da sociologia cristã e na defesa das classes operárias”.
As associações que ajudou a fundar eram mantidas pelos próprios operários das fábricas são-joanenses. Além de cooperativas alimentícias e escolas profissionalizantes, as contribuições dos associados mantinham os fundos de pensão em caso de invalidez, problemas de saúde ou acidentes de trabalho – direitos que ainda não existiam naquela época e que só seriam debatidos e legislados mais de três décadas depois, com a Consolidação dos Direitos do Trabalho (1943).
Frei Cândido ainda fundou o Clube Dramático e um Liceu de Artes de Ofícios. Faleceu no Rio de Janeiro em 1937. Em homenagem a seus feitos, a via onde se localiza o Albergue Santo Antônio recebe hoje o nome de Rua Frei Cândido, ligando a rodoviária ao largo da Igreja Dom Bosco.
Por João Victor Militani e Brenda Guerra