Chamado de louco por seus conterrâneos, o gaúcho Landell de Moura
foi pioneiro na transmissão de sons através de ondas de rádio e um dos primeiros a pensar a televisão.
O Dia Mundial do Rádio foi criado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2011, com a intenção de homenagear as diversas formas com as quais esta tecnologia influenciou a cultura e ainda delineia muitos dos costumes sociais. Mas vamos aproveitar o dia para falar de curiosidade pouco conhecida: você sabia que o padre brasileiro Roberto Landell de Moura foi um dos pioneiros na invenção da radiotransmissão?
Oficialmente, o rádio foi inventado pelo italiano Guglielmo Marconi e patenteado por ele em 1896. Nesse período, suas primeiras experiências transmitiam apenas sinais telegráficos. Somente em 1899, Marconi faria sua primeira transmissão radiofônica através do Canal da Mancha, entre Inglaterra e França.
Entretanto, dois anos antes da patente do italiano, ainda em 1894, a primeira transmissão através de aparelhos de rádio já acontecia na cidade de Porto Alegre, no Sul do Brasil. A façanha foi realizada pelo padre Landell de Moura, que levou seus experimentos para São Paulo, na intenção de conseguir patrocínio. Mesmo enviando a voz humana através de 8km, entre a Av. Paulista e a região do Alto de Santana, sua tentativa de impressionar investidores paulistanos não deu certo e, somente em 1899, Moura voltaria à capital paulista para uma nova tentativa.
Desta vez, o padre gaúcho atraiu jornalistas e um cônsul britânico interessado em seus experimentos. Neste período, conseguiu financiamento para realizar uma excursão científica pela Europa e Estados Unidos. Conseguiu patentear alguns de seus projetos tanto no Brasil quanto na América, mas acabou sendo ridicularizado por seus próprios conterrâneos.
Em 1903, durante sua estadia nos Estados Unidos, Landell de Mouro conseguiu patentes para o telefone sem fio e o telégrafo sem fio. Em 1913, já de volta ao Rio Grande do Sul, também criou os primeiros projetos para a transmissão de imagens à distância, que ele próprio chamou de “televisão”.
Ainda em 1905, ao pedir ao governo brasileiro o empréstimo de dois navios da marinha, para que pudesse demonstrar a transmissão de som através de distâncias marítimas, Moura, entusiasmado, comentou com um dos assessores da Presidência da República que, um dia, suas invenções poderiam realizar a comunicação entre os mundos. O assessor o taxou de louco e o presidente da época, Rodrigues Alves, negou o pedido dos navios.
Alguns religiosos não aceitaram a idéia de comunicação entre mundos e é possível que a Igreja tenha proibido o padre de seguir com seus inventos daí por diante. Alguns teriam dito até mesmo que ele estava envolvido com bruxaria. Moura teria quebrado seu laboratório após esse episódio.
Faleceu em 1928, após passar por várias paróquias paulistas e gaúchas.
Por João Victor Militani