Neste dia 22 de agosto, conheça algumas lendas do folclore brasileiro que você, possivelmente, nunca ouviu falar.
Rico em lendas, mitos e personagens, o folclore brasileiro é uma mistura de diversas culturas nativas e outras tantas vindas do exterior. Personagens da tradição européia e da africana se misturaram às crenças indígenas, formando assim um grande panteão de criaturas – algumas amedrontadoras, outras divertidas e cativantes, mas todas ricas em significado e história.
Espalhadas por todo o país, essas lendas, durante séculos, fizeram parte do imaginário das pessoas. Elas justificavam a gravidez de uma mulher solteira – como o mito do Boto – ou os transtornos causados por eventos naturais e o sumiço ou roubo de objetos – como o redemoinho de vento do Saci e suas travessuras. No entanto iam muito além.
Estes dois exemplos, famosos em livros para crianças, são apenas versões infantilizadas de histórias obscuras que envolviam sangue, matança, sensualidade ou mesmo estupro. Autores nacionais, como Monteiro Lobato, prestaram um grande serviço ao adaptarem essas histórias de forma mais leve, divulgando-as a um público mais abrangente – o mesmo feito pelo Irmãos Grimm na Europa, que transformaram velhas tradições orais da Alemanha em contos de teor mais leve que seus enredos originais.
Entretanto, após gerações sendo tratado como “coisa de criança”, o folclore brasileiro acaba sendo rebaixado por adolescentes e adultos à uma categoria inferior diante de mitos de outras localidades. O folclore da Escandinávia ou da Inglaterra, por exemplo, são mais divulgados no Brasil que nossas próprias lendas. Mitos europeus, muitas vezes usado como pano de fundo para grandes histórias de fantasia, seja na literatura ou no cinema, se tornam muito mais populares e ganham muito mais a admiração do público.
Para mostrar que o folclore nacional vai muito além do Saci, da Cuca, Iara ou Curupira, colocamos abaixo seis personagens presentes na tradição oral do povo brasileiro.
As ilustrações são da artista brasiliense HET que, em 2017, publicou 31 desenhos de personagens do folclore brasileiro em sua página no Facebook.
Corpo-seco e Bradador
Ambos personagens possuem histórias semelhantes. Corpo-seco é uma espécie de zumbi, um cadáver rejeitado pela terra após tantas maldades que cometeu em vida. Segundo sua lenda, ele prejudicou até mesmo a própria mãe e, por isso, foi negado de entrar no mundo dos mortos. Já o Bradador – que significa gritador – é uma alma-penada, um assombração famosos no estado de Santa Catarina. Da mesma forma que Corpo-seco, Bradador também foi rejeitado e sua alma vaga pelo mundo, principalmente nas sextas-feiras, depois da meia-noite.
Capelobo
Versão nacional do Lobisomem, o Capelobo é um monstro que habita as matas do Norte do Brasil. Seu corpo é uma mistura entre ser humano e animais. Na descrição mais tradicional, este personagem tem cabeça de tamanduá e corpo de homem e atacada caçadores durante a madrugada, sugando o sangue de suas vítimas. A única forma de matá-lo é acertando um tiro (de flecha ou arma de fogo) diretamente em seu umbigo. Mas se errar, não adianta correr. O Capelobo vai te pegar!
Boi Vaquim
A lenda do Boi Vaquim surgiu entre os vaqueiros que habitaram a região Sul do país. O touro mítico, com aspas de ouro e asas de pássaro, soltava faíscas pelos chifres e amedrontava os moradores da região. Este personagem causava um misto de fascínio e medo nos moradores do Rio Grande do Sul: alguns vaqueiros temem encontrar a fera durante suas cavalgadas, enquanto outros, em busca de fama, sonham em laçar e dominar o Boi Vaquim.
Boitatá
Uma das mais antigas lendas do país, presente na cultura Tupí em todo o território nacional, o Boitatá é uma grande serpente de fogo, que não apaga suas chamas nem mesmo dentro d’água. A cobra gigante usa suas labaredas para queimar aqueles que tentam colocar fogo na mata. Alguns pesquisadores acreditam que o mito surgiu para explicar os incêndios espontâneos ou o fogo-fátuo – uma reação química natural que pode causar chamas em locais com grande quantidade de material orgânico em decomposição.
Quibongo
De origem africana, o Quibongo é um personagem comum nas lendas da Bahia. É uma personagem presente em diversos contos trazidos pelos negros, sempre o intuito de disciplinar crianças mal-criadas. Seria um grande monstro, com duas bocas, presas afiadas e grande força.
Mapinguari
Entre os mais terríveis monstros do imaginário popular brasileiro, está o Mapinguari. Com mais de dois metros de altura, esta fera habita as florestas do norte do país e muitos habitantes da região ainda hoje juram ter visto este animal andando pela floresta. Um dos relatos mais famosos é de um grupo de seringueiros que encontrou um casal de mapinguari na Floresta Amazônica em 1967. Segundo a lenda e a crença popular, os pelos do monstro são tão grossos que o tornariam resistente a disparos de armas de fogo. Muitos habitantes da floresta ainda hoje acreditam na existência deste ser mitológico.
Muitos outros monstros míticos ainda habitam o imaginário popular dos brasileiros de diversas regiões. Para conhecer os outros desenhos criados por HET, basta clicar neste link. Para conhecer outros mitos nacionais, o Museu Regional sugere a leitura do livro Geografia dos Mitos Brasileiros, escrito por Luis da Câmara Cascudo.
Por João Victor Militani