Professora, escritora, pioneira nos estudos do folclore nacional e regional, além de revolucionária em seus métodos de ensino, Alexina de Magalhães Pinto foi uma personagem controversa e incompreendida da História de São João del-Rei.
Nascida em 1869, a são-joanense era descendente de uma das mais tradicionais famílias daquele período, representantes da elite mineira: os Almeida Magalhães e os Magalhães Pinto.
Apesar de poucos registros sobre sua infância e adolescência, é possível dizer que Alexina seguiu os passos comuns das crianças da aristocracia daquela época. Mas é ainda no princípio da juventude que sua rebeldia começaria a despontar. Com apenas 20 anos de idade, teria fugido sozinha para Europa e frequentado diferentes cursos na França, Itália, Espanha e Portugal.
Sua estadia no Velho Mundo foi rápida, pouco mais de um ano. Mas foi tempo suficiente para Alexina aprender e trazer de lá as novas técnicas de ensino da chamada Escola Ativa. Seus métodos eram totalmente contrários ao estilo racionalista e automatizante da Velha Escola, ainda vigente no Brasil até meados do Século XX.
Apesar de controversa, conta-se ainda que, ao voltar da Europa, Alexina teria trazido uma bicicleta e teria desafiado a tradicional sociedade da época, pedalando pelas ruas da cidade e usando calças compridas – o que teria lhe rendido uma chuva de tomates e uma ameaça de excomunhão pela igreja.
Em 1893, a jovem professora tomava posse da Cadeira de Desenho e Caligrafia da antiga Escola Normal de São João del-Rei. Devido à resistência aos seus métodos e sua personalidade, Alexina pede exoneração do cargo apenas três anos depois, ainda em 1896. Muda-se para o Rio de Janeiro, onde dá aulas por mais de 20 anos.
Durante esse período, a são-joanense se dedica ao estudo do folclore e das lendas populares. É considerada pioneira nesta área, publicando 5 livros sobre histórias, cantigas, brinquedos e provérbios.
Em sala de aula, quebrou paradigmas ao substituir os castigos físicos por tarefas intelectuais. Trocou a palmatória por exercícios de memória e dicção, fazendo os alunos indisciplinados aprenderem cantigas de roda e trava-línguas. Era contra o uso da cartilha soletrada do “b-a-ba” e uma das primeiras a utilizar o método global, indo contra os princípios da época.
Foi ainda a primeira a usar material folclórico na elaboração de materiais didáticos infanto-juvenis e inovadora ao acreditar no potencial educativo da cultura popular. Ela acreditava ser fundamental a criação de uma literatura nacional voltada para crianças e jovens, além da criação de bibliotecas voltadas a este público.
Alexina de Magalhães Pinto terminou a vida de maneira trágica. Aos 45 anos, perdeu a audição e foi obrigada a deixar o trabalho no magistério. Em 1921, com 51 anos, a ex-professora passeava sobre uma linha férrea, no distrito de Corrêas, em Petrópolis. Devido à sua surdez, não ouviu a chegada do comboio e foi atropelada pela locomotiva, arrastada por cerca de 800 metros.
Sua personalidade forte, seus métodos que fugiam do tradicional e sua rebeldia social a tornaram mal vista entre seus conterrâneos de São João del-Rei e pouco lembrada pelos historiadores do folclore. Em 1970, ano de seu centenário, sua cidade natal organizou uma homenagem à Alexina, mesmo sob a má vontade de alguns dos moradores mais antigos. Revistas e jornais do período repetiram as opiniões desabonadoras à folclorista – mesmo 49 anos após sua morte.
A revelia dos que a viam com maus olhos, naquele mesmo ano os livros de Alexina foram publicados em Portugal e França e, mais tarde, uma pequena rua de São João del-Rei, com cerca de 230 metros, nos fundos do Bairro Fábricas, ganhou o nome de Rua Alexina Pinto.
Por João Victor Militani