No último dia 26, o Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei (IHG-SJDR) realizou o evento “Café com Prosa: rodas de conversa” para o lançamento do livro “Dossiê Serra do Lenheiro”, no Teatro Municipal. A produção foi feita pela equipe composta pelo doutor em Geografia, Arlon Cândido Ferreira, a turismóloga, Betânia Nascimento Resende, o ambientalista, Edmilson Rezende de Sales, o graduando em Arquitetura e Urbanismo, Iago Christino Sales Passarelli, o técnico em Guia Regional de Turismo, Luiz Antônio Sacramento Miranda e o organizador responsável por reunir todo o material, Ulisses Passarelli.
O livro, que conta com mais de 960 páginas, reúne estudos de campo, materiais inéditos, fotografias, mapas, tabelas, ilustrações, documentações históricas e infográficos feitos durante 23 anos. Ao longo do dossiê são apresentados temas como: o homem e o território, o patrimônio natural e cultural, reflexões sobre a Serra, suas ocupações, usos, ameaças e danos.
A produção contou com recursos do Fundo Municipal de Patrimônio Cultural (FUMPAC) deliberados pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural para arcar com os custos da publicação. Além disso, contou com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, da Prefeitura e do IHG-SJDR, responsável pela edição e editoração gráfica.
A Serra do Lenheiro foi tombada administrativamente pelo município em 1988, sendo o único patrimônio natural de São João. Junto com o lançamento do Dossiê, o tombamento processual também foi realizado, agora sob a deliberação do Conselho de Patrimônio, que convalidou o decreto anterior. De acordo com Ulisses Passarelli, “as vantagens do processual são, sobretudo, as garantias de permanência ao longo do tempo”.
O lançamento
A cerimônia foi realizada na noite de terça-feira (26) e contou com a presença dos autores, familiares, autoridades e representantes de instituições culturais da cidade. O clima foi de festa, com discursos sobre o novo livro e com apresentações musicais. Teté Santos e Zé Mineiro (Luthero Castorino) foram os responsáveis por apresentar canções temáticas sobre a Serra do Lenheiro. O evento ainda contou com os sons dos tambores de congado, com o apoio de Jailton Braga e Celso.
João Victor Militani, Chefe de Serviço do Museu Regional, esteve presente representando a instituição e destacou a importância da produção para a composição das identidades e histórias são-joanenses.
“Essa iniciativa é fundamental para a preservação da Serra do Lenheiro, do patrimônio cultural e natural da cidade. A partir desses levantamentos e registros, feitos ao longo de tantos anos, é possível deixar um dossiê histórico para a posteridade, sendo uma referência para futuras gerações”, declarou.
O Museu Regional foi contemplado com três exemplares do livro que já estão à disposição para consulta na biblioteca. Para ter acesso, basta entrar em contato com o Museu e agendar um horário para atendimento. “Para nós é um grande prazer receber esses exemplares. Com certeza, é um livro que irá servir de referência para pesquisadores e visitantes que queiram conhecer as riquezas não só históricas, mas também naturais da nossa cidade”.
A produção
As pesquisas na Serra do Lenheiro começaram em junho de 2000. O objetivo inicial era produzir um guia de turismo e de campo, com fotos, pesquisas bibliográficas e desenhos, para quem desejasse visitar o local. “Nós chegamos a produzi-lo, a deixá-lo pronto, mas não publicamos, porque não tinha recurso e ficou aquilo parado”, explicou Ulisses.
A partir de 2015, os pesquisadores identificaram a necessidade de preservar a Serra e, por isso, adaptaram para o formato dossiê. A conversão de formato demandou um tempo considerável e o conteúdo foi revertido para um aspecto mais técnico e com foco na questão patrimonial. “Obviamente, o novo viés da pesquisa demandou que se retornasse a campo muitas vezes, para ter um outro olhar sobre as mesmas estruturas que a gente já havia identificado como meros atrativos”.
Luiz Miranda, técnico em Guia Regional de Turismo e um dos autores do livro, possui uma relação com a Serra desde a infância e também uma ligação ancestral com o local. Devido a um piquenique organizado pelo professor Antônio Gaio Sobrinho, Miranda e Ulisses se conheceram e passaram a explorar as riquezas desconhecidas da Serra. “Ela nos deu e continua nos dando a água, deu ouro, deu lenha. Então, fomos buscando mais informações ao longo desses 23 anos. E nesse período foram chegando outras pessoas”.
A equipe formada por 6 pessoas e com características multidisciplinares saía a campo, fotografava, fazia medições, marcação de coordenadas e análises de campo. Esses materiais eram organizados pelo computador, juntamente com as pesquisas bibliográficas. Após isso, o grupo retornava a campo e continuava a varredura pela área.
Com aproximadamente 4867 hectares, a Serra possui estruturas que remetem à mineração aurífera, ao trabalho da criação de gado e à relação cultural no campo da religiosidade, com a presença de vários cruzeiros. A importância histórica, cultural e social da Serra do Lenheiro está registrada no Dossiê. “A gente criou um volume de informações consideráveis, que serve como referência, como fonte de pesquisa. Pode ser que, daqui a 10 anos, você precise de uma referência para analisar o estado de conservação de um determinado bem”, explicou Ulisses.
Para Miranda, o Dossiê vem para servir como base para registros escolares e que as crianças possam entender, no futuro, o que a Serra do Lenheiro representa. “É bom para todos compreenderem que a Serra ela é muito mais do que um monte de pedras, matas e cerrados. Ela é a vida de São João del-Rei. Se a Serra morre, a cidade morre”.
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