Desde o período da Retomada do Cinema Nacional, o Brasil aumentou de forma gradual a quantidade de filmes produzidos anualmente. A partir de 2018, foram lançados mais de 150 longas-metragens por ano. No entanto, não há estimativas para o número de curtas-metragens produzidos no país.
Com duração máxima de 30 ou 40 minutos, os curtas raramente ganham as salas comerciais e ficam restritos aos festivais e mostras cinematográficas. Em comemoração ao Dia do Cinema Brasileiro, fizemos uma seleção de 15 filmes produzidos na região de São João del-Rei ou por cineastas locais e de cidades próximas. São obras selecionadas para mostras e festivais, algumas delas premiadas. Entretanto, selecionamos também alguns filmes amadores, porém de grande qualidade e relevância no cenário local.
Dia do Cinema Brasileiro
Em se tratando de sétima arte, o Brasil sempre foi um país adiantado. Em julho de 1896, o Rio de Janeiro teve sua primeira sessão de cinema, apenas sete meses depois dos irmãos Lumière terem inventado o cinematógrafo em Paris. No ano seguinte já existia uma sala de cinema na capital fluminense e, em 19 de junho de 1898, o italiano Afonso Segreto gravou as primeiras imagens em movimento em território nacional.
O pequeno documentário com imagens da Baía de Guanabara foi o primeiro filme brasileiro da história e, em homenagem ao feito, foi instituído o Dia do Cinema Brasileiro – uma data para exaltar a importância da produção cinematográfica e chamar a atenção para nossos produtores, diretores, técnicos e artistas que atuam na sétima arte.
Confira abaixo nossa seleção de 15 filmes regionais (em ordem alfabética de títulos):
Além de Preto, Viado (2017)
Produzido como trabalho de conclusão do curso de jornalismo da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), o documentário aborda a solidão, o racismo e a homofobia sofridos pelos homens gays negros. Dirigido pelo jornalista Lucas Porfírio, e contando com personagens de São João del-Rei, Lavras e Belo Horizonte, o curta foi exibido na 21ª Mostra de Cinema de Tiradentes e em outros festivais, como o Cine Diversidade, na capital mineira.
Barbante (2016)
Dirigido por Daniel Couto, este filme conta a aventura de Zeca, um garoto de 13 anos, para encontrar Barbante, seu cachorro perdido. O garoto percorre as ruas de Juiz de Fora em busca do animal de estimação, enquanto o enredo tece quase uma homenagem ao estilo ainda interiorano de uma das maiores cidades de Minas Gerais. O curta-metragem foi selecionado no 9th CMS International Children’s Film Festival, na Índia, além de ser exibido em outras nove mostras nacionais, em Santa Catarina, Goiás, Espírito Santo, Pernambuco, Amazonas, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.
A Dor Fica (2014)
Nas beiras das estradas do país existem diversas cruzes. Esses marcos são a lembrança de que ali, em um acidente de trânsito, alguém veio a falecer. Este curta-metragem, do são-joanense Thiago Morandi e de Daniel Gouvêa, relembra as histórias de algumas dessas cruzes às margens das rodovias próximas de São João del-Rei. Com depoimentos emocionantes e desabafos de parentes que perderam pessoas queridas, o filme serve como aviso aos usuários das pistas e como cobrança aos órgãos responsáveis.
Em Nome da Razão (1979)
Dirigido pelo cineasta mineiro Helvécio Ratton durante o auge da ditadura militar, este documentário mostra o cotidiano dos pacientes internados no Hospital Colônia de Barbacena, que foi chamado de holocausto brasileiro. O filme se tornou um marco na luta antimanicomial no país e ainda hoje tem muito a dizer sobre o tema. O curta ganhou três prêmios em festivais do Brasil e da França.
(En) Cantos do Congado (2018)
O mais longo dessa lista, com 44 minutos de duração, este documentário traz as memórias de diversos grupos de congado de São João del-Rei, Tiradentes e algumas outras cidades do Campo das Vertentes. Produzido pelo Programa de Pós-Gradução em História da UFSJ, o filme presenta, em diversas entrevistas e debates, os reflexos da escravidão, das influências das religiões africanas e das relações da cultura negra com a reinvenção do catolicismo influenciado por eles.
Lonely (2017)
Após a morte dos pais em um acidente de trem, uma garota tenta se livrar de sua vida solitária e angustiante. Produzido e dirigido por um aluno da Universidade Federal Juiz de Fora (UFJF), esse curta-metragem foi selecionado para nove festivais internacionais, incluindo mostras dos Estados Unidos e Reino Unido.
Lux et Tenebrae – A Luz no Ofício de Trevas (2020)
Lançado este ano, o curta conta um pouco do funcionamento desta tradição católica quase extinta em todo mundo, porém ainda celebrada em São João del-Rei. Produzido e dirigido pelo jornalista e assessor de comunicação Lucas Silveira, o filme traz entrevistas com as pessoas diretamente ligadas à cerimônia.
Móbile Haikai (2017)
Produzida com recursos da Lei Municipal de Incentivo a Cultura de Juiz de Fora, este curta de ficção conta a história de amor entre personagens deficientes: uma cega e outra surda. A paixão das protagonistas vai além das demonstrações comuns e extrapolam os cinco sentidos para poderem expor uma a outra os seus desejos e sentimentos. Dirigido por Lilian Werneck, o filme estreou no Festival Primeiro Plano e foi o primeiro filme da cidade a contar com audio-descrição para deficientes visuais.
Regeneração de um Devasso (1968)
Ambientado nos bordeis da icônica Rua da Cachaça, no centro de São João del-Rei, esse curta dirigido por Sérgio Ratton conta sobre a… bom, o nome já diz: a regeneração de um devasso. Com elementos de histórias fantásticas, o protagonista, que passa os dias na boemia, resolve mudar sua vida após ter visões míticas de anjos e demônios. O curta apresenta a velha disputa entre o sagrado e o profano, que em São João del-Rei sempre caminharam muito próximos um do outro.
São João del-Rei (1958)
Dirigido pelo cineasta Humberto Mauro, esse é um dos históricos filmes produzidos pelo Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE) que, entre 1936 e 1964, realizou mais de 300 documentários sobre história, localidades e ciência. O curta apresenta São João del-Rei, tendo a cidade como protagonista, mostrando seus monumentos, costumes e contando parte de sua história. Além do precioso registro imagético, o filme também expõe a visão da época, ainda enraizada nos ideais getulistas.
Os Segredos do Rio Grande (2017)
Produzido por alunos de escolas municipais de Lavras, este curta-metragem de animação ganhou o primeiro lugar no festival internacional The Voice Of Citizens, promovido pelo Festival Internacional do Audiovisual Ambiental e exibido durante o Forum Mundial da Água em 2018. Feito com técnicas de stop motion, o filme conta a história de dois peixinhos que precisam da ajuda de humanos para limpar e salvar o Rio Grande, principal rio do Sul de Minas.
Senhora do Monte Carmelo (2015)
Selecionado para a 19ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes, este curta-metragem documental é um registro de uma das mais belas festas da tradição religiosa de São João del-Rei. O diretor são-joanense Thiago Morandi apresenta os festejos do Carmo, acompanhando a imagem da Virgem Maria pelas ruas da cidade.
Será que Tem Indígena Aqui? (2019)
“Prata da casa”, esse pequeno documentário foi produzido pela equipe de Assessoria de Comunicação do Museu Regional de São João del-Rei e exibido durante a 17ª Semana Nacional de Museus. Parte de um projeto que também deu origem a um livro homônimo, o documentário Será que Tem Indígena Aqui? apresenta entrevistas com os moradores da aldeia Pataxó Muã Mimatxi, no município de Itapecerica-MG, contando um pouco de seus costumes, sua história e seu processo de educação.
Tião Paineira (2012)
Dirigido pelo cineasta Thomaz Pedro, professor do curso de Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, este curta conta a história do tiradentino Tião Paineira. Oleiro desde criança, Tião preserva uma profissão que poucos conhecem e memórias de tempos muito distantes: uma época em que ainda não existiam turistas, asfalto e nem mesmo bicicletas na cidade de Tiradentes. Em 2016, o fotógrafo e cineasta Thiago Morandi também produziu um curta-metragem com o mesmo personagem, chamado Tião Paineira: 86 janeiros.
Tiradentes Sob Óticas
O processo de transformação da cidade de Tiradentes, de um vilarejo histórico, tradicional e familiar em uma cidade turística e empresarial, que atrai visitantes e empreendedores de todo o país. Assim pode ser descrito o conteúdo desse documentário produzido por alunos do curso de História da UFSJ. Através das entrevistas e imagens da cidade, os alunos trouxeram uma visão completa e complexa das transformações sociais e econômicas do município tiradentino.
Texto: João Victor Vilas Boas Militani
Curadoria: João Victor Vilas Boas Militani e Isabela Castro