
O 20 de novembro é marcado pelas manifestações do Dia da Consciência Negra. No ano passado, o tema passou por aqui através de um texto para entendermos o que é essa data e o que ela representa. Neste ano, buscando celebrar e propagar a literatura afro-brasileira, o Museu Regional de São João del-Rei elencou cinco autores mineiros e suas histórias, produções e contribuições literárias. Confira:
Mª da Conceição Evaristo – Belo Horizonte, 1946
- Ponciá Vicêncio – 2003
Poeta, contista e romancista nascida em 29 de novembro de 1946. Cresceu na favela e conciliava as tarefas de faxineira e babá com os estudos buscando tornar-se professora. Mudou-se para o Rio de Janeiro para encontrar oportunidades profissionais, já que em Minas Gerais só indicados lecionavam. Graduou-se em Letras pela UFRJ e atuou no magistério até 2006. Mestra em Literatura Brasileira pela PUC-Rio, doutora em Literatura Comparada na UFF, foi finalista do prêmio Jabuti (2015) e recebeu Prêmio de Literatura do Governo de Minas Gerais (2018). Suas narrativas abordam ancestralidade trazendo personagens de mulheres negras numa junção de ficção e realidade. Produz o que ela mesma chama de escrevivência – é a vida que se escreve na vivência de cada pessoa, assim como cada um escreve o mundo que enfrenta. O romance Ponciá Vivêncio foi escrito em 2003 e discorre a trajetória da protagonista desde a infância à fase adulta, trazendo à tona memórias afetivas, manifestações populares e visão da realidade da população oprimida e escravizada. Além de obras publicadas no exterior, a autora já escreveu poemas, contos, participações em antologias e incontáveis artigos acadêmicos.
“Na voz de minha filha se fará ouvir a ressonância o eco da vida-liberdade.”
Adão Ventura Ferreira – Santo Antônio do Itambé (Serro), 1946
- A cor da pele – 1980.
Poeta do Vale do Jequitinhonha neto de escravos trabalhadores de fazenda e mina, formou-se em Direito na UFMG em Belo Horizonte, buscando melhores condições de vida. Foi revelado junto a outros autores no Suplemento Literário de Minas Gerais, criado durante a Ditadura Militar. Na época, sofreu repressão por sua poesia negra como crime de subversão. Lecionou fora do país, na University of New Mexico, além de participar do International Writing Program e promover palestras em universidades americanas. Retornou ao Brasil e foi para Brasília, tornando-se Presidente da Fundação Palmares. Foi premiado diversas vezes, inclusive com a Insígnia da Inconfidência. Publicou seis livros de poesia que foram traduzidos para diversos idiomas, destacando “A cor da Pele”, que reunia elementos de afro-descendência e questões sociais voltadas ao racismo e direitos dos negros. Faleceu deixando vários escritos inéditos, junto a diversos itens que foram doados ao Acervo de Escritores Mineiros, do Centro de Estudos Literários e Culturais da UFMG, armazenando desde objetos pessoais a livros, reportagens e rascunhos.
“eu,
pássaro preto,
cicatrizo
queimaduras de ferro em brasa,
fecho o corpo de escravo fugido
e
monto guarda
na porta dos quilombos.“
Ana Maria Gonçalves – Ibiá, 1970
- Um defeito de cor – 2006
Escritora que desde a infância produzia contos e poemas, até atuar como publicitária em São Paulo por cerca de 13 anos. Alimentava casualmente um blog pessoal, perdeu o encanto pela profissão, vendeu tudo que tinha e foi morar na Bahia, onde reacendeu a busca pela leitura e escrita. Lançou uma edição independente ao fim de 2002 e praticamente vendeu toda tiragem. Seu segundo romance, “Um defeito de cor”, foi lançado em 2006 e recebeu o Prêmio Casa de las Américas e foi considerado por Millôr Fernandes o livro mais importante da literatura brasileira do século XXI. A história é inspirada em uma heroína da Revolta dos Malês, capturada como escrava aos 8 anos de idade. A narrativa conta sua trajetória até sua volta à terra natal como mulher livre. A autora também já produziu para o teatro, além de participações em antologias em Portugal e Itália. Já ministrou leituras e cursos em Tulane University, Stanford University e Middlebury College. Em entrevista concedida em 2019, o ex diretor-geral da Rede Globo, Carlos Henrique Schroder, comentou que o livro seria adaptado para uma série ou novela com lançamento previsto para 2021.
“Eu não quero me confundir com essa sociedade. Eu quero ajudar a criar um novo modelo de sociedade, que parta da fissura, do quebrado. É interessante notar que, na arte japonesa, a fissura valoriza o objeto que se quebrou. Depois de ser restaurado com pó de ouro, o objeto é mais valioso. Nossas vozes e nossas ideias são pó de ouro.”
Cidinha da Silva – Belo Horizonte, 1967
- Um Exu em Nova York – 2018
Mª Aparecida da Silva, a Cidinha da Silva, é escritora e “prosadora” formada em História na Universidade Federal de Ouro Preto. Foi presidente ativista do Geledés – Instituto da Mulher Negra e fundou também o Instituto Kuanza, voltado à ações culturais e educativas para a população negra. Já foi gestora de cultura na Fundação Cultural Palmates e desde criança cultiva a escrita criativa e o desejo de ser escritora. Antes de publicar literatura, em 2006, Cidinha já produziu mais de seis dezenas de ensaios e artigos voltados à temática racial das relações sociais e de gênero. Como destaque, a produção Um Exu em Nova York, de 2018, aborda temas contemporâneos voltados ao cenário político, racial e LGBT. Também tem livros para o público infanto-juvenil e organizou uma publicação intitulada “Africanidades e relações raciais: insumos para políticas públicas na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas no Brasil, apresentando diagnóstico da realidade sociocultural do livro, leitura, literatura e bibliotecas (LLLB). Escreve contos, crônicas, poesias e produções para o teatro.
“Quero Michael no ouvido
Não o mutante
O Jackson Five
Menino que ninava os grandes
Aliviava-lhes o peso do mundo
Mesmo que o mundo lhe doesse tanto.”
Edimilson de Almeida Pereira – Juiz de Fora
- Dormundo – 1985
Nascido em Juiz de Fora no dia 18 de julho de 1963, o poeta, professor e pesquisador Edimilson graduou-se em Letras, tornou-se Especialista e Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Doutor em Comunicação e Cultura e Pós-doutorado em Literatura Comparada na Universidade de Zurique, na Suiça. Produziu dezenas de livros e artigos e estreou com o livro de poemas “Dormundo” em 1985. Dentre suas inúmeras premiações, destacam-se o 1º lugar no “Concurso Nacional de Poesia Helena Kolody”, da Secretaria Estadual de Cultura do Paraná e também no “Concurso Nacional de Literatura em 2004” conferido pela Academia Mineira de Letras. Somado a isso, tem em sua autoria 12 títulos de literatura infantil e infanto-juvenil, publicados entre 1998 e 2017.
“Ao contemplar o barroco das igrejas
e a rouquidão do ouro, o visitante olhar
não funde o corpo ao tempo: outeiros
tão escuros e não compreende o silêncio
de um totem antes jamais percebido.
O barroco não é o cansaço do ouro
mas o direito do explorado corpo.”
Um equívoco comum na utilização da expressão “literatura afro-brasileira” é a associação com a cor da pele do autor, quando na verdade, cabe ressaltar que trata-se da denominação para produções literárias cujas temáticas abordadas reafirmam e resgatam manifestações e costumes afro-brasileiros.
Estes, são apenas alguns dos incalculáveis autores que fazem da literatura um universo de representatividade, contribuindo para a construção de um país livre de opressões. Nosso reconhecimento aos conterrâneos de Minas Gerais que dedicam suas vidas literatas na realidade em primeira pessoa, protagonizando, testemunhando e semeando as vozes de 56% da população brasileira. (IBGE)
O que achou desse conteúdo? Saiba mais sobre o assunto lendo nosso artigo sobre a origem do Dia da Consciência Negra.
FONTES:
The Intercept | Brasil Escola | Brasil De Fato
Brasil De Fato | Blog Ana Maria Gonçalves
Letras UFMG | UFMG
Letras UFMG | Afreaka | Blog Cidinha Silva
Letras UFMG | Enciclopédia Itau Cultural
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